Setor deve ser o último a se recuperar, e já o mais prejudicado por conta das medidas de distanciamento social e proibição de aglomerações
Revista Imagem | 30/05/2020 08:00
Campeonatos esportivos suspensos, shows e espetáculos adiados, feiras de negócios canceladas. Com as medidas de distanciamento social para combater a disseminação do novo coronavírus, e a proibição de aglomerações, o setor de festas e eventos congelou. Empresários e representantes do setor dizem que ainda não conseguem estimar o prejuízo causado pela crise, mas já consideram o primeiro semestre morto. Em alguns segmentos, como de feiras e congressos, o impacto da crise é maior e pode gerar falências.
Em Rondônia, nem mesmo o governo do estado quis pagar para ver, e cancelou a Rondônia Rural Show Internacional, que estava marcada para essa semana (26 a 30 de maio) em Ji-Paraná. A feira acontecerá só no ano que vem. A secretaria estadual de Agricultura gastaria cerca de R$ 2,2 milhões para organizar o evento, que no ano passado movimentou R$ 703,5 milhões. Em oito anos, foram mais de R$ 4 bilhões de negócios realizados.
Menor, mas não tão menos importante, a Expovale (Exposição de Piscicultura e Agronegócio do Vale do Jamari) também foi adiada. O evento que aconteceria de 30 de abril a 3 de maio ainda não tem data para ser realizado. Considerada a maior feira de negócios da produção de pescado de Rondônia, a Expovale movimentou mais de 200 expositores e teve circulação superior a 10 mil visitantes por dia no ano passado. O tradicional churrasco gigante de tambaqui também foi suspenso. No ano passado foram assadas cerca de 3 mil bandas do pescado e todo o dinheiro arrecadado com a ação foi revertido para ações beneficentes.
Outra feira que também não acontecerá mais nesse ano é a Expoac (Exposição Agropecuária de Cacoal). Mesmo prevista para agosto, a Associação Rural de Cacoal, organizadora do evento, decidiu pelo cancelamento. “Após analisar todas as situações que envolvem esta pandemia, mesmo na esperança de que, até agosto, a situação tenha se amenizado, não há como deixar de considerar o prejuízo econômico que cairá sobre todo o mundo. Pessoas e empresas já estão passando por dificuldades financeiras e a Diretoria da Associação Rural de Cacoal, mesmo entendendo que as Feiras Agropecuárias fomentam o agronegócio e fazem o dinheiro circular, reconhece que neste ano todos terão que adotar outras prioridades.”, explicou a associação em nota.
Já em Vilhena, as diretorias da Aviagro (Associação Vilhenense dos Agropecuaristas) e da ACIV (Associação Comercial e Industrial de Vilhena) ainda não entraram em consenso sobre a realização ou não da Rondônia Rural Sul, criada no ano passado com a fusão da Expovil e do Portal do Agronegócio. Todo esse cenário dá conta de que Vilhena não terá sua tradicional feira agropecuária, seja lá com qual nome for.
PAUSA NAS FESTAS
Estagnação também no seguimento de eventos sociais. Quem estava com casamento marcado para esse semestre preferiu adira a subida até o altar. As debutantes também tiveram que adiar sua festa de “estreia”, assim como quem pretendia comemorar bodas teve que esperar um pouco mais. “Foi uma decisão difícil de ser tomada, até por que tivemos que deliberar sobre isso há poucas semanas dos eventos, ainda no início de março, quando não tínhamos muitas informações sobre o que de fato aconteceria no Brasil, e em Rondônia. Então, para não corrermos riscos, orientei os clientes a adiaram os eventos para o segundo semestre”, conta a cerimonialista e wedding planner Simone Miranda.
Proprietária de uma das maiores empresas de cerimonial e organização de eventos de Rondônia, Simone conta que por enquanto o setor está conseguindo manter os contratos e por conta disso minimizar os prejuízos. A questão mais complicada é encontrar uma data em comum que esteja livre na agenda de todos os fornecedores, já que um único evento pode contar facilmente com mais de 10 empresas diferentes. “A reacomodação das datas requer um pequeno malabarismo pois envolve muitos fornecedores - alguns de outros estados - e principalmente os desejos e expectativas do cliente”, explica Simone.
Mas mesmo minimizados, os prejuízos existem pois com a postergação dos eventos, posterga-se também o recebimento dos contratos. Só que as contas não param de chegar. São pagamentos de encomendas, salários de funcionários e outras despesas que não podem esperar. Por conta disso, algumas empresas precisaram dispensar funcionários e cancelar compras de materiais.
Porém, as mudanças de datas não dão nenhuma certeza quanto a realização dos eventos no segundo semestre, pois ainda não se sabe como será a evolução da pandemia, e as medidas restritivas impostas pelos governos estadual e municipal. “Os eventos sociais, como o próprio nome diz, são para socialização, onde as pessoas estão juntas, conversam, dançam, se abraçam. Não tem como fazer uma festa e pedir para o convidado manter distanciamento social. É incoerente. Outros mercados conseguem se adequar às regras de distanciamento social, mas o mercado de eventos, não. Por conta dessa peculiaridade, o nosso futuro ainda é muito incerto”, explica Simone.
A preocupação é relevante porque as leis e decretos, tanto do Estado quanto do município, proíbem a realização de eventos de qualquer natureza com mais de 5 participantes presentes. E sem convidados não tem festa. Não tem festa também nas boates e casas de shows, que estão fechadas por conta dos decretos, e não sabem quando poderão voltar a funcionar. Em Vilhena, uma das boates até tentou reabrir, adotando medidas de distanciamento e higienização, mas com a reedição do decreto municipal, a reabertura não foi possível.
TURISMO
O Setor de Turismo e Hospitalidade que anda lado a lado com o de eventos também é outro que deve demorar a se recuperar. Porém, neste ramo os prejuízos já são possíveis de se calcular. A Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) estima a falência de 10% dos hotéis, enquanto a Confederação Nacional do Turismo (CNTur) estima que 30% dos restaurantes e similares em toda a rede brasileira não suportarão a falta de clientes, totalizando cerca de 200 mil estabelecimentos fechando as portas, gerando uma onda maciça de desemprego num curto espaço de tempo.
Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que, somente em março, foram R$ 11,96 bilhões em perdas de receita, uma queda de 84% em relação ao mesmo período de 2019.
De acordo com Wilson Luiz Pinto, Secretário Geral da CNTur, o grande problema é que restaurantes possuem pouco capital de giro, por ser atividade de alto custo e com margem de lucro baixa. "Um ponto comercial precisa ser num lugar bem visível, com um valor aluguel extremamente caro. A atividade também exige muitos funcionários e, além disso, temos uma alta carga de imposto sob os ombros da categoria. É impossível ficar um mês parado, sem faturar", alerta Luiz Pinto.
"Estudos da JP Morgan mostram que temos menos fôlego pra aguentar a crise, entre todas as atividades econômicas. O documento mostra que setor aguentaria 16 dias fechado, ou seja, já entramos num colapso de vendas, com queda de faturamento de 90%", avalia Paulo Solmucci, presidente Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL).
Uma das modalidades que vem mantendo o setor, o delivery não é visto como uma solução definitiva por Solmucci. Segundo o dirigente, o sistema ameniza, mas não é o bastante para quitar as contas dos estabelecimentos. "O salão que realmente é responsável pelo faturamento, a maioria absoluta dos restaurantes não consegue pagar nem mesmo a folha salarial com pedidos por telefone. Essa modalidade é uma medida paliativa. Precisamos que essa pandemia passe rapidamente, se não o prejuízo será ainda maior", lamenta.
Em Vilhena, um dos restaurantes mais tradicionais da cidade, demitiu 20% dos funcionários, ainda no início de março. “Quando tudo isso passar, recontratamos os funcionários, mas por enquanto não temos como suportar o pagamento dos salários”, disse um dos proprietários, pedindo para não ser identificado.
O representante da ABRASEL também cobra mais ações dos governantes. "Até agora, só tivemos contrapartida do Governo Federal, mas estados e municípios precisam fazer mais, como reduzir impostos e contas. Só isolamento social não resolve a situação".
Hotéis são os que mais sentem a crise, alega Alexandre Sampaio, presidente da FBHA. "Fomos os primeiros a sofrer com a pandemia e seremos os últimos a voltar à atividade normal. Estimamos que mais de três mil hotéis e pousadas fechem as portas, durante essa crise, pelo alto custo de manutenção e funcionamento desse tipo de estabelecimento", explica.
Sampaio acredita que deve haver uma concorrência predatória prejudicial, pela ânsia de fazer caixa, e que somente um aporte do Governo Federal pode reduzir os danos. "As diárias serão mais baixas e alguns estabelecimentos podem até cobrar valores que não cobrirão nem mesmo seus custos operacionais, pela necessidade de fazer caixa com urgência, pois as linhas de financiamento para capital de giro infelizmente estão empoçadas".
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